Reitor anuncia que vai apresentar ao Co no dia 23/3 “proposta de reconhecimento dos servidores” da USP, mas não dá nenhum detalhe do plano
Carlotti: "tudo o que for importante a gente discute no Co" (foto: Marcos Santos/USP Imagens)

O reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior anunciou na reunião do Conselho Universitário (Co) da USP desta terça-feira (7/3) que vai convocar uma reunião extraordinária do Co no próximo dia 23/3 para apresentar o que chamou de “proposta de reconhecimento dos servidores técnico-administrativos e docentes”.

“Tenho sido cobrado diuturnamente por essa iniciativa e eu disse que estávamos com muita dificuldade legal para fazer uma modelagem para que isso pudesse ser feito. Mas aparentemente já encontramos um modelo, que deve ser enviado nos próximos dias para a COP [Comissão de Orçamento e Patrimônio] e CLR [Comissão de Legislação e Recursos]. Depois, aprovado por essas duas instâncias, vou trazer para o CO no dia 23”, disse o reitor, sem dar nenhum detalhe a respeito da proposta nem das instâncias responsáveis pela sua elaboração.

Enquanto se mantém a expectativa em relação a esse plano, Carlotti falou também sobre outro tema que vem sendo objeto constante de denúncias e ações da Adusp: as contratações de professoras e professores para sanar um déficit de praticamente mil docentes na universidade.

O reitor informou que a Comissão de Claros Docentes tem se reunido a cada dez dias para fazer a destinação das vagas para as unidades e não poupou elogios às propostas recebidas em resposta ao “Edital para Seleção de Mérito de Docentes MS-3”, publicado em novembro do ano passado – iniciativa com viés meritocrático e produtivista que resultou em muitas disputas e cisões nas unidades, departamentos ou órgão equivalentes.

Foram recebidas cerca de 350 propostas (“na verdade eu esperava até mais”, disse o reitor). A seleção está sendo feita pela própria Comissão de Claros Docentes, presidida por Carlotti, e deve ter seus resultados anunciados até meados de abril.

“Fiquei muito satisfeito com a qualidade dos pedidos com base nesse edital. Se fiquei um pouco decepcionado quando nós pedimos os relatórios, as especificações daquelas vagas que vocês [diretores e diretoras de unidades] já tinham ganho, que era só para sabermos qual era o perfil docente, agora que era um sistema competitivo houve um esmero muito maior no preenchimento desse material e é realmente um material bastante qualificado”, comparou, enfatizando o peso cada vez maior que a visão meritocrática e produtivista possui na gestão e nas rotinas da USP.

“Esses 63 docentes vão fazer a diferença na universidade. Os projetos são muito bons, as propostas são muito boas tanto no ensino quanto na extensão e na pesquisa”, ressaltou.
Por sua vez, a Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP está preparando um documento para solicitar que, em caráter de urgência, a Reitoria emita uma portaria que permita aos departamentos aplicar a reserva de vagas de pessoas pretas, pardas e indígenas nos concursos docentes. A informação foi dada no Co por Tulio Ferreira Leite da Silva, representante discente da pós-graduação.

Em novembro de 2022, um grupo de docentes negros e negras entregou ao reitor vários documentos que reivindicam a adoção da reserva de vagas nos concursos docentes, incluindo um parecer elaborado pela professora sênior Eunice Prudente, da Faculdade de Direito, que sustenta que a universidade tem autonomia para implementar a medida.

Vale registrar ainda que, ao mencionar a abertura de vagas para funcionária(o)s no Hospital Universitário (HU), Carlotti fez um comentário ferino, embora sem explicitar a unidade destinatária: “Escuto muito – ‘ah, por que você deu 120 vagas pro HU?’ Escutei ainda ontem de uma determinada congregação. Aqui no Co ninguém fala isso. Gostaria que quem tivesse essa ideia se manifestasse aqui no Co e não só nos corredores para falar que ‘o reitor faz isso, faz aquilo’. Tudo o que for importante a gente discute aqui”.

Carlotti reconhece que “reuniões de dirigentes” serviam para tomar decisões prévias ao Co

Representante da categoria da(o)s professora(e)s associada(o)s no Co, Rodrigo Bissacot Proença abordou a preocupação de setores docentes da USP com a desvalorização da carreira, afirmando que “está havendo uma fuga de talentos” e que “não estamos sendo capazes de atrair jovens talentosos para a carreira universitária”.

Bissacot mencionou o documento “Carreira USP: do primor à incerteza”, a respeito do qual a Diretoria da Adusp se pronunciou em nota, e afirmou que “existe a necessidade de adoção de medidas urgentes para a valorização da carreira docente”.

O professor dirigiu duas perguntas ao reitor e à vice-reitora: a primeira é se o Grupo de Estudos sobre a Carreira Docente e Regimes Previdenciários Docentes, criado pela Reitoria em dezembro de 2022, “pode discutir proposta de reestruturação com itens que não tenham necessariamente relação só com regimes previdenciários”; e a segunda é se a Reitoria não acha melhor “fortalecer o Co, talvez aumentar o número de reuniões, e acabar com as reuniões de dirigentes”.

Sobre o primeiro tema, Carlotti respondeu que “o problema da aposentadoria é um fato importante, e a gente tem que atuar politicamente em relação a isso, mas não dá para contar só com isso como a solução dos nossos problemas”.

O reitor afirmou que não há nenhuma limitação de temas para discussão no grupo e se disse “aberto a qualquer sugestão que me convença, que seja viável e que a gente possa implementar”.

Quanto ao segundo ponto, Carlotti acabou confessando que as reuniões de dirigentes – instância não existente nos documentos normativos da USP – funcionavam como “prévia” para arredondar posições e votos em relação aos temas que seriam deliberados pelo Co.

“Nós fizemos uma mudança importante em relação ao que se fazia. Você tinha uma reunião de dirigentes preparatória para o Co. Você resolvia na reunião de dirigentes e depois o Co quase que homologava a reunião de dirigentes. Nós mudamos completamente isso no ano passado. Reunião de dirigentes é para discutir assuntos administrativos ou fazer no final do ano uma confraternização entre os diretores e a Reitoria. Não é mais uma reunião preparatória para o Co”, disse.

O reitor enfatizou que as reuniões de dirigentes devem continuar ocorrendo também para “manter o vínculo com os diretores e manter o fluxo de informações administrativas para que a máquina funcione melhor, mas não para substituir o Co”.

Apesar dessas declarações, de fato a gestão Carlotti-M.Arminda já encaminhou decisões importantes para a universidade que haviam sido previamente “azeitadas” nas reuniões de dirigentes, como a aprovação, no Co de 21/6/2022, de um plano de investimentos de quase R$ 1,9 bilhão discutido inicialmente entre a Reitoria e diretora(e)s de unidades.

Carlotti, no entanto, manteve o discurso de que o Co é a instância decisória máxima da USP e de que cabe a ele debruçar-se sobre os grandes temas da vida da universidade, e não discutir, por exemplo, recursos de inscrições impugnadas em concursos – havia cinco deles na pauta da reunião, o que inclusive fez o reitor dizer-se “meio envergonhado” de ter que submeter tantos recursos ao Co.

A função de debater os “grandes temas” será reforçada, anunciou Carlotti, com a realização de reuniões temáticas do conselho sobre as áreas das pró-reitorias da USP. A primeira, ainda sem data, será sobre graduação. “Quero discutir a entrada de alunos, evasão, currículos, um monte de assuntos que vão impactar a vida da universidade”, ressaltou. “É aqui que se decide. A discussão política tem que ser feita no Co e acho que tem sido pouco feita. Precisamos qualificar as reuniões do Co.”

Cabe reafirmar que, além de “qualificar”, é importante democratizar não apenas o Co, mas todas as instâncias decisórias da universidade. Em novembro de 2021, antes da eleição reitoral, Carlotti e Maria Arminda participaram de reunião com a Diretoria da Adusp e defenderam na ocasião alternativas imediatas para aumentar a representatividade de setores da universidade no Co, como ampliar o número de componentes vindos dos museus e institutos especializados, bem como de categorias como docentes associada(o)s e doutora(e)s. Carlotti mencionou ainda que era preciso repensar quais entidades externas deveriam ter assento no conselho. Até agora, nenhuma dessas medidas foi adotada ou sequer discutida.

Reitor fala em “parcerias” com governos federal e estadual

Na abertura da reunião, Carlotti registrou a participação da Reitoria da USP na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em janeiro. Fez questão de agradecer ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, pela recepção em Brasília.

“Foram extremamente gentis com a Reitoria, mostrando o respeito que têm pela universidade onde eles são professores”, disse.

Carlotti relatou que fez visitas e “contatos bastante interessantes” em órgãos como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Supremo Tribunal Federal (STF).

“Principalmente na área da saúde e da inovação vamos estabelecer boas relações com o governo federal”, afirmou, referindo-se também à visita da ministra da Saúde, Nísia Trindade, à USP em fevereiro.

Carlotti reuniu-se com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Do ex-governador que por mais tempo ocupou o Palácio dos Bandeirantes no longo domínio de 28 anos do tucanato em São Paulo, o reitor ouviu que “existe uma preocupação muito grande com a reindustrialização do Brasil”.

De acordo com Carlotti, é muito provável que as três universidades estaduais paulistas se unam ao ministério, ao BNDES e à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) para promover uma discussão que faça do estado de São Paulo “um hub inicial da reindustrialização do país”.

Em relação ao governo Tarcísio de Freitas-Felício Ramuth, Carlotti mencionou que há “mais chances” de colaboração e contato com as secretarias da Educação, da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação, esta última ocupada pelo ex-reitor Vahan Agopyan.

Na área da educação, citou projeto para a concessão de bolsas da secretaria estadual, liderada por Renato Feder, no valor de aproximado de R$ 2 mil para toda(o)s a(o)s aluna(o)s dos cursos de licenciatura da USP (cerca de 10 mil), o que deve ocorrer no próximo ano, mas não detalhou qual o objetivo da proposta.

Carlotti também defendeu que o governo do estado promova mais concursos públicos para que essa(e)s aluna(o)s possam ingressar na carreira tão logo terminem a graduação e afirmou que “o foco” é pensar em eventuais mudanças no sistema tributário brasileiro “e garantir o financiamento das universidades”.

Outros temas tratados na reunião do Co, como a avaliação da carreira docente e o desmonte do Hospital Universitário, serão abordados em reportagens do Informativo Adusp na próxima semana.

EXPRESSO ADUSP


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