Feminicídio choca Esalq, grupos expressam indignação, mas direção da unidade limita-se a emitir nota de 3 linhas sobre Carolina Dini Jorge

Continua repercutindo em Piracicaba o covarde assassinato de Carolina Dini Jorge, funcionária da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), por seu ex-marido, em 24/3, quando ela se preparava para pegar a filha numa escola estadual. De nada adiantou a medida protetiva que a justiça concedera a Carolina.

Numa atitude que vem sendo objeto de críticas, até o fechamento desta matéria a Diretoria da Esalq não havia se manifestado sobre o caso, exceto por uma curta nota que emitiu a pedido do Jornal de Piracicaba, sem qualquer menção ao fato de ter sido um feminicídio ou às suas brutais circunstâncias, uma vez que Carolina foi encurralada no seu carro e assassinada com vinte facadas.

“Com pesar, comunicamos o falecimento da Sra. Carolina Dini Jorge, funcionária do Serviço de Contabilidade, ocorrido ontem, 24 de março de 2022. Neste momento de tristeza e dor, manifestamos nossas condolências aos familiares e amigos”, diz a nota da Diretoria da Esalq (confira aqui).

Na última sexta-feira (1o/4), a Comissão Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia Aplicada (PPGI-EA) emitiu nota de repúdio ao feminicídio que chocou a cidade. O programa reúne a Esalq e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA).

“O PPGI-EA, por meio de sua Comissão, vem externar, publicamente, a sua indignação com o crime brutal cometido contra a funcionária Carolina Dini Jorge, no último dia 24 de março de 2022. Repudiamos toda e qualquer forma de agressão contra a mulher e consideramos o feminicídio abominável, bem como a apatia e o silêncio diante de crimes bárbaros cometidos contra qualquer ser humano”, diz o texto.

“Entendemos que toda vez que uma mulher é abatida por um homem, como foi a Carolina, um pedaço de cada um de nós morre com ela. Desejamos que essa dor e revolta se revertam em força e coragem para que possamos agir para que nunca mais uma mulher seja agredida por um homem. Deixamos à família nossos profundos sentimentos de amor e gratidão pela mulher, mãe, esposa, filha, profissional e cidadã que foi Carolina Dini Jorge”.

Também o Coletivo Feminista Raiz Fulô repudiou o ocorrido. “No mês da mulher, [em] que acima de tudo reivindicamos respeito, perdemos mais uma de nós”, lembra sua nota, antes de resumir as circunstâncias do crime, ocorrido a poucos metros da escola onde estudava a filha do casal.

“Nove em cada 10 mulheres consideram que o local que apresenta maior risco de feminicídio é dentro de casa, por um parceiro ou ex-parceiro. Três em cada 10 mulheres adultas já foram ameaçadas de morte por um parceiro ou ex-parceiro (pesquisa realizada pelos Institutos Locomotiva e Patrícia Galvão). Até quando veremos casos assim?”, questiona.

“Esse não é o primeiro caso e infelizmente não será o último. Diariamente mulheres são agredidas, abusadas e mortas, aqui em Piracicaba e no mundo. Basta! Isso tem que parar! Chega de feminicídio, chega de violência contra a mulher!”, protesta o Raiz Fulô. “Manifestamos aqui nosso repúdio ao caso de Carolina Dini Jorge, ao seu assassino covarde e ao silêncio da universidade na qual ela trabalhava”.

A crítica à Diretoria da Esalq e à USP continua nas frases seguintes da nota. “Nós não abaixaremos a voz até encontrarmos um país mais respeitoso, inclusivo e menos desigual para todas(es)! Onde uma faculdade não ignore o fato de sua funcionária ter sido vítima de feminicídio, sem nenhum tipo de parecer ou homenagem institucional”, denuncia.

“O Coletivo Feminista Raiz Fulô, na companhia das estudantes de graduação, pós-graduação, professoras e funcionárias, estará ativo no reconhecimento da história de Carolina, de forma a homenageá-la e trazendo sua força para nossa luta!”, acrescenta. O grupo organizou uma homenagem a realizar-se na próxima sexta-feira (8/4), às 10h, no anfiteatro Professor Urgel de Almeida Lima (“Jumbão”), do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), seguida de caminhada até o prédio central da unidade. “A presença de todos vocês é de extrema importância para que a história de Carolina seja reconhecida e valorizada como merecida”.

O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) juntou-se aos protestos. “É com imenso pesar que recebemos a notícia de que no dia 24 de março nossa companheira Carolina Dini Jorge, trabalhadora da Esalq-Piracicaba, morreu, aos 41 anos, vítima de feminicídio. Aos filhos, familiares e amigos de Carolina, deixamos nossa solidariedade e engrossamos as fileiras da luta por justiça”, afirma a nota da Secretaria de Mulheres do Sintusp, emitida em 28/3.

“Neste mês que marca a nossa luta contra a opressão patriarcal e a exploração, vemos mais uma de nós ter sua vida roubada de forma trágica e cruel. Depois de mais de duas décadas de casamento, o ex-marido, autor do crime, considerava ela e seus filhos sua posse e pensava poder dispor de suas vidas como bem quisesse. Não deu o direito de Carolina dizer não. Com uma faca à luz do dia, em frente à escola de sua filha, desferiu os golpes mortais”, descreve.

“No Brasil de Bolsonaro e Damares o ódio às mulheres é pregado pelo próprio estado. A cada sete horas uma mulher é vítima de feminicídio. A cada dez minutos um estupro acontece. Essa triste estatística mostra que tragédias como essa não são exceção. São parte de uma política de submissão dos nossos corpos, do nosso suor e da nossa consciência”, prossegue a nota.

“Uma morte desta forma, tão absurda e antinatural deve nos fazer levantar com tamanha indignação e gritar por justiça. Não podemos ser vítimas silenciosas da opressão e exploração da sociedade sobre as mulheres. Nosso ódio precisa ser o combustível para organizar nossa luta. Se Carolina não foi a primeira mulher a sofrer feminicídio, exigimos que seja a última”.

EXPRESSO ADUSP


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