Propostas de ensino à distância, como a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) e a já implantada Universidade Aberta do Brasil (UAB) têm surgido, ultimamente, com muita freqüência (ver edições do Informativo Adusp 246 e 228, respectivamente).

As principais alegações feitas pelos defensores do ensino virtual são: 1) a oferta de oportunidades para as pessoas que não podem freqüentar o ensino presencial regular e 2) a urgência da formação de professores – cujo déficit nacional na Educação Básica está, de fato, na casa das centenas de milhares.

Tais alegações têm repercutido na sociedade por conta dos baixíssimos índices de atendimento na educação infantil, da enorme mercantilização do ensino superior e da péssima qualidade dos ensinos fundamental e médio.

Inúmeras instituições privadas, aproveitando-se do frenesi criado pelos defensores desse modismo, oferecem cursos rápidos com grande carga de aulas virtuais e “semi-presenciais”, que resultam em certificados de duvidosa utilidade.

Entretanto, essas alegações são altamente questionáveis. Inexistem cursos públicos presenciais em número suficiente e, portanto, as pessoas não têm acesso a eles. Por exemplo, no Estado de São Paulo, há cerca de 25 mil vagas em instituições públicas federais ou estaduais nesse nível de ensino contra meio milhão de conclusões do ensino médio a cada ano.

Grande erro

Tentar resolver o problema quantitativo da formação de professores por meio do ensino à distância é um grande erro, cujas conseqüências serão duradouras.

A formação inicial de um professor depende da interação sistemática estudantes-objetos de conhecimento-professores, coisa praticamente inexistente no ensino à distância.

Empregos

Há ainda dois fatores que mostram a inconveniência da adoção do ensino à distância no Estado de São Paulo.

A Assembléia Legislativa está apreciando o nosso Plano Estadual de Educação (PL n° 1.074/03), que prevê, entre outros aspectos, a expansão do ensino superior presencial e de qualidade.

Há um grande contingente de mestres e doutores, formados pelas instituições públicas paulistas, que não encontram emprego adequado e que poderiam fortalecer o ensino superior público presencial.

Diversos países adotam o ensino à distância em pequena escala e de forma complementar ao ensino presencial, atendendo sobretudo pessoas realmente impossibilitadas, por algum motivo sério, de freqüentar o ensino presencial: prisioneiros, pessoas com graves problemas de saúde e/ou de locomoção etc.

Equívoco

Porém, no Brasil e em São Paulo o ensino à distância tem sido equivocadamente defendido não como algo complementar, mas como substituto do ensino presencial.

Se a Univesp vingar, em especial para a formação de professores, certamente teremos mais uma dívida social a pagar no futuro, como pagamos hoje, e caro, por políticas inadequadas adotadas por sucessivos governos paulistas no passado.

 

Matéria publicada no Informativo n° 262

EXPRESSO ADUSP


    Se preferir, receba nosso Expresso pelo canal de whatsapp clicando aqui

    Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!