EàD é a solução para a falta de professores na Educação Básica?
Fotos: Bahiji Haji/Fórum das Seis
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Professores Otaviano Helene e Maria Elizabeth

No dia 11/11, aconteceu em Campinas o segundo evento do “I Fórum de Debates sobre EàD”. A atividade é fruto de acordo firmado entre Fórum das Seis e Cruesp (Informativo Adusp 296) e teve como tema central “Faltam professores para a Educação Básica? EàD é a solução?”.

Pelo Fórum, debateram os professores Otaviano Augusto Helene, do Instituto de Física da USP, e Ivany Rodrigues Pino, da Faculdade de Educação da Unicamp. Pelo Cruesp, as professoras Maria Elizabeth de Almeida, do Programa de Pós-Graduação em Educação-Currículo da PUC-SP, e Bernadete Gatti, da Fundação Carlos Chagas e consultora da Unesco.

O evento contou com transmissão ao vivo pela Internet, incluindo o recebimento de perguntas e a tradução para a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), feita pela professora Sônia Maia. Estavam presentes professores, funcionários e estudantes da Unicamp, USP, Centro Paula Souza e campi da Unesp de Rio Claro, Assis, São José do Rio Preto e Bauru.

Mediação

A professora Elizabeth iniciou a exposição conceituando EàD como um “modelo de educação necessariamente mediatizada por tecnologias e intencionalmente pedagógica”. Ela considera errônea a comparação entre ensino presencial e à distância. “Não há sentido em comparar o melhor da educação presencial com o pior de EàD e nem o contrário”, ponderou. “Nós partimos do pressuposto de que não é a modalidade que garante a qualidade.”

Outra crítica aos cursos à distância que merece ser desmistificada, segundo a docente da PUC, é relativa ao papel do professor no processo de EàD. Enfatizando que distância não significa, necessariamente, ausência, Elizabeth disse que essa modalidade de ensino exige professores bem formados. “Por isso, não gosto do termo tutor”.

Para Elizabeth, EàD não é a solução para todos os problemas educacionais, mas sim uma das soluções possíveis. “As tecnologias são estruturantes do currículo e não apenas instrumentos de transmissão de informações”, disse.

Deficit

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Professoras Ivany (ao microfone) e Bernadete

A professora Bernadete focou a fala inicial na situação da categoria de professores no país. De acordo com levantamento do Inep/MEC, o país conta com cerca de 2,6 milhões de professores, dos quais aproximadamente 735 mil não dispõem de formação superior. “Isso sinaliza um deficit grande de formação entre os professores em exercício”, pontuou.

Bernadete destacou, também, o baixo índice de professores com formação superior específica na área em que lecionam (citou a área de Física, na qual só 9% dos docentes têm formação específica). “A realidade é que a formação de professores nunca foi preocupação central das grandes universidades, embora o filho de todo mundo precise deste profissional”, criticou.

Ela disse não ser favorável ao uso indiscriminado da educação à distância, mas destacou que suas análises apontam necessidades que a educação presencial não dá conta de solucionar. Revelou preocupação com os números de EàD no país: de 24.389 alunos matriculados em cursos à distância em 2002, saltou-se para cerca de 1,5 milhão em 2007 (dados do MEC). A taxa de concluintes não ultrapassa 27%. “A educação à distância está sendo feita de forma atabalhoada tanto no setor público quanto no privado e isso exige reflexão”, reforçou.

Contradições

O professor Otaviano procurou demonstrar a incongruência dos argumentos mais utilizados para justificar a proliferação do EàD. O primeiro aspecto que destacou é que não faltam professores no país. Considerando o número dos que se aposentam anualmente, seriam necessários, em média, 50 mil novos profissionais a cada ano. Contudo, o país forma cerca de 170 mil professores todos os anos.

“Parte considerável destes professores não vai para a sala de aula, por problemas que vão desde os baixos salários até as condições precárias de trabalho”, explicou Otaviano. “Assim, apresentar EàD como solução só fará crescer o número de professores fora da sala de aula”.

Outra contradição é o grande número de vagas à distância oferecidas na área de Pedagogia. A Unesp, por exemplo, abriu 1.350 vagas por meio do projeto Univesp, com início previsto para março de 2010. “O curioso é que a Pedagogia forma cerca de 70 mil pessoas por ano, o que seria mais do que suficiente para cobrir a demanda”, exemplificou.

O crescimento acelerado de EàD no Brasil nos últimos anos pode ter explicações bem concretas, como a exigência, prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), de que 30% dos jovens entre 18 e 24 anos estejam matriculados no ensino superior até 2011.

A professora Ivany corroborou as ponderações do colega da USP. Ela considera que uma das razões para a rápida expansão das vagas à distância tem relação com a crise enfrentada pelas instituições privadas de ensino superior, que procuram meios de manter suas taxas de lucratividade. “Estamos vendo várias universidades serem vendidas para grupos estrangeiros, que chegam aqui para implantar seus modelos de educação. É a globalização da educação”, ironizou.

O próximo debate

“É possível formar bons profissionais para o país via EàD?”, 02/12/2009, das 14 às 18h, no Anfiteatro da FAU (USP).

Debatedores: Edmundo Fernandes Dias, Klaus Schlünzen Junior, Manoel Oriosvaldo de Moura e Sueli Guadelupe de L. Mendonça.

O evento será transmitido pela Internet (mais informações no site www.usp.br/prg)

 

Matéria publicada no Informativo nº 298

EXPRESSO ADUSP


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