Apesar da luta dos diversos movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos que, desde 2018, organizam-se nas campanhas “Fora Bolsonaro”, o candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) conquistou a vitória no segundo turno da eleição para governador de São Paulo, neste domingo (30/10), por margem folgada.

Tarcísio obteve 13,480 milhões de votos (55,27% dos válidos), em números redondos, contra 10,909 milhões de votos (44,73% dos válidos) recebidos por Fernando Haddad (PT), segundo o Tribunal Regional Eleitoral. Embora tenha sido o mais votado na capital paulista, o candidato do PT perdeu no interior: Tarcísio venceu em 566 municípios, contra 78 de Haddad, conforme relato do portal G1.

Obviamente a vitória de Tarcísio no estado mais populoso e de maior importância econômica do país traz alento político ao bolsonarismo, frente à derrota de Jair Bolsonaro (PL) e vitória de Lula da Silva (PT) na disputa do cargo de presidente da República. A extrema-direita perde a Presidência da República mas conta agora com governadores nos estados-chave de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, entre outros.

À parte este impacto na política nacional, a chegada de Tarcísio ao Palácio dos Bandeirantes pode garantir sobrevida a importantes políticas neoliberais implantadas no longo período de hegemonia estadual do PSDB, especialmente nos governos Geraldo Alckmin-Márcio França (curiosamente ambos integrantes da frente que apoiou Haddad) e João Doria-Rodrigo Garcia.

Note-se que parcela expressiva do eleitorado “raiz” tucano parece ter migrado para o bolsonarismo e votado em Tarcísio, movimento puxado pelo governador Garcia e por prefeitos como Nogueira Jr., de Ribeirão Preto, que logo após o final do primeiro turno explicitaram apoio ao candidato de Bolsonaro. As agendas econômicas coincidem em linhas gerais: estado “enxuto”, transferência de recursos públicos para grupos privados, contenção e cortes em programas sociais. É possível que coincidam igualmente no tocante a uma tradição tucana: aversão a verbas vinculadas.

Porém, por não ter os mesmos vínculos históricos com as bases sociais agora herdadas, Tarcísio talvez se sinta mais à vontade para tentar cortes nas receitas das universidades públicas estaduais e da Fapesp, algo que tanto Alckmin (atualmente vice-presidente eleito do Brasil) como Doria tentaram, sem grande sucesso.

Sua eleição também é má notícia para os defensores do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC), abandonado pela Reitoria da USP e transferido para o governo estadual, que o entregou nas mãos da “organização social” Faepa, fundação privada, por meio de um contrato sem licitação, tudo conduzido pessoalmente por Rodrigo Garcia quando ainda vice-governador.

Por outro lado, as universidades podem voltar a ser objeto de ataques políticos. A aliança entre PSDB e Republicanos não é inédita e foi inaugurada por Doria, ao nomear o deputado estadual Wellington Moura, desse partido, como vice-líder de seu governo na Assembleia Legislativa (Alesp). Foi Moura que comandou a CPI das Universidades na Alesp, colocando reitores na berlinda e insinuando uma série de irregularidades não comprovadas.

É bem possível que os institutos públicos de pesquisa continuem sendo alvos de crescente estrangulamento, seja por meio da não reposição de pesquisadores e pesquisadoras, seja por intermédio de privatização parcial, como ocorre no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) desde que Doria mandou implantar o “IPT Open Experience”.

Os desafios serão muitos para os movimentos sociais e sindicatos de trabalhadore(a)s. É muito provável, por exemplo, que o novo governador mantenha as concessões de parques públicos lançadas por Doria, em especial a do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), que pretende entregar uma preciosa área da Mata Atlântica para investidores internacionais. E as chances de reverter a extinção do Instituto Florestal e a liquidação, disfarçada de “fusão”, dos institutos Geológico e de Botânica se tornam mínimas.

Na área da assim chamada segurança pública, Tarcísio prometeu retirar as câmeras embutidas nos uniformes dos policiais militares, o que, se vier realmente a ocorrer, será um enorme retrocesso no único avanço civilizatório digno de nota registrado nos últimos anos em São Paulo, pois foi capaz de reduzir a alta letalidade das ações da Polícia Militar.

EXPRESSO ADUSP


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