A contagem regressiva impera no final das aulas do período noturno no campus da capital. Professor, funcionário e estudante sabem que, se se demorarem pelos corredores um pouco mais, terão que enfrentar a longa espera por ônibus circulares, o trânsito congestionado do portão 1 e — para os que moram nos arredores dos portões 2 e 3 — alguns quilômetros a mais no percurso até a porta de casa.

Desde 7/8, a Prefeitura do Campus adotou políticas que prevêem, segundo o ofício circular GP/05/PCO/010806, enviado às unidades, “melhorar as condições de segurança do campus”. A mudança consistiu em restringir o horário de funcionamento das portarias de veículos e pedestres, estabelecendo normas mais rígidas para acesso ao campus no período da noite e aos finais de semana.

Em 11/8, a Adusp enviou um ofício ao prefeito do campus, professor Adilson Carvalho, com cópia para a reitora Suely Vilela, em que solicitou a revisão da nova política. “Não conseguimos depreender como a eliminação do acesso controlado pelos portões 2 e 3 possa significar melhoria na segurança da comunidade. Esses outros dois portões também contam com a presença de vigilância e o acesso controlado, que continuará sendo feito pelo portão 1, também poderia ocorrer nesses dois portões”, afirma a Adusp.

Discriminação

“Limitar o acesso apenas pelo portão 1 significa uma discriminação injustificável a uma grande parcela da comunidade universitária que reside nos bairros próximos às outras duas entradas, especialmente no portão 3 (FMVZ, Corifeu A. Marques). Em alguns casos, significa acrescentar de 4 a 6 km a um percurso que seria de algumas centenas de metros”.

O documento lembra que o trabalho de pesquisa na universidade muitas vezes exige o acesso aos laboratórios em horários noturnos, finais de semana e feriados. “Não bastasse a dedicação e o altruísmo exigido destas pessoas, essa nova sistemática ainda lhes imporá dificuldades adicionais injustificáveis à realização de seu trabalho. A situação torna-se ainda mais perversa quando trata-se de pessoas que não dispõem de meios de transporte próprios”.

De acordo com a Adusp, a estrutura operacional da USP deve funcionar de modo a facilitar e estimular as atividades fins da instituição, o que inclui o pleno acesso da comunidade universitária por todos os portões que contam com vigilância. A entidade sugeriu, para evitar lentidão, que o início do acesso noturno controlado se dê após o início da segunda aula dos cursos noturnos (21h10), e não após as 20h00 como atualmente.

Renato Figueiredo Jardim, chefe do Departamento de Física dos Materiais e Mecânica, do Instituto de Física (IF), considera a restrição do acesso parte de um contexto mais amplo de desrespeito aos participantes de cursos do período noturno. Além dos portões, segundo o professor do IF, contribuem com esse descaso a escassa circulação de ônibus circulares à noite, bem como a precariedade do sistema de iluminação. Para Renato Jardim, essas questões, que ocasionam “um sério problema de segurança”, também têm relação com o índice de evasão entre os que estudam à noite. “A Universidade só vai resolver o problema quando tratar o estudante noturno de maneira decente, sem marginalizá-lo”, critica.

“Recebemos algumas reclamações de alunos, dizendo que complicou muito o acesso”, relata Roberta Costa, do DCE-Livre da USP. A estudante explica que a entidade está discutindo a nova regulamentação dos portões dentro de um contexto de ameaça à autonomia dos espaços estudantis na USP, o que deve ser tema de Assembléia Geral.

“Abertura”

Hamílcar Ferreira Miranda, assistente do prefeito do campus da capital, afirma que “havia abertura” da Prefeitura para “receber sugestões e comentários”. A disposição da Prefeitura quanto a sugestões foi anunciada depois que entraram em vigor os novos horários. Segundo Hamílcar, as propostas deram origem a uma pequena revisão, que afrouxou a restrição ao acesso durante os finais de semana. Indagado sobre a resposta ao ofício da Adusp, o assistente garante que a Prefeitura responderá, só não disse quando. “A gente teve um volume de informações muito grande”, justifica.

Para o professor Américo Kerr, a abertura a sugestões não significou uma disposição em pensar coletivamente uma política de segurança. “A alteração foi feita e sequer recebemos resposta”, denuncia.

 

Matéria publicada no Informativo nº 222

EXPRESSO ADUSP


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