Elaboração de um “plano amplo e urgente de recuperação das atividades perdidas, baseado no diálogo com os pesquisadores, destinado a todas as pesquisas afetadas e que não dependa da apresentação de demandas individuais”, ampliação em 12 meses dos períodos de bolsas de todos pesquisadores afetados, acompanhada “de novos prazos para os relatórios” e “novas condições de financiamento”.
 
São estas as sugestões encaminhadas ao Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por um coletivo de 150 bolsistas, que consideram insuficientes as medidas paliativas adotadas pela agência até agora, tais como a ampliação do prazo em dois meses, que “está, atualmente, desatualizada, pois os problemas relativos às dinâmicas sociais advindas do isolamento social tiveram a duração de, no mínimo, 12 meses”, e a avaliação das demandas individuais de redução de danos à pesquisa, que esbarra na falta de agilidade da instituição.
 
A “Carta à Fapesp sobre as pesquisas afetadas pela pandemia” começa por lembrar que “são notáveis os impactos provenientes da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) e da consequente política de distanciamento e de quarentena na vida das pessoas” e que “as pesquisas financiadas pela Fapesp não escapam à essa tragédia” e são diretamente afetadas por fatores como 1) o fechamento, “por cerca de um ano, de laboratórios, bibliotecas, arquivos e outras instituições fundamentais para a realização de pesquisas”, 2) a impossibilidade de deslocamentos nacionais e estrangeiros, que inviabiliza trabalhos de campo e estágios internacionais, 3) o adoecimento de muitos pesquisadores, “causado pelo vírus ou, indiretamente, pelo impacto psíquico do luto, do isolamento social e da suspensão das atividades”, bem como 4) as condições desiguais “nas quais os/as diversos/as pesquisadores/as foram obrigados/as a reformular seus trabalhos em casa”, por vezes, com “acesso precário à Internet ou ausência de espaços residenciais para home-office”.
 
O documento cita ainda a suspensão das atividades das creches e escolas, “bem como a impossibilidade de acesso aos familiares, cuidadores e tutores profissionais que compunham a rede de apoio institucional para mães, pais e responsáveis legais de crianças e adolescentes”, reduzindo-se assim “a dois ou três dias na semana” o tempo disponível para dedicação a seus respectivos projetos de cerca de 80% desses pesquisadores.
 
“Nessas circunstâncias”, explicam, “as iniciativas tomadas pela Fapesp para mitigar os impactos nas pesquisas têm sido importantes, mas insuficientes”. Além da extensão de dois meses no prazo que se tornou obviamente defasada, e da incapacidade da agência de responder com rapidez às demandas dos bolsistas, a carta cita os problemas relacionados ao Programa de Bolsa de Pesquisa de Estágio no Exterior (BEPE).
 
“A Fapesp não realizou alterações dos prazos estipulados antes da pandemia. Notadamente, a regra do retorno dos estágios internacionais oito ou quatro meses antes do fim da bolsa no país e a obrigatoriedade de se enviar[em] os pedidos de renovação 30 dias antes do fim da bolsa. Esta inflexibilidade tem impedido a manutenção e a realização dos planos de estágio internacional, dificultado o contato com as instituições estrangeiras e impedido o planejamento, com antecedência, de medidas para recuperar as pesquisas afetadas”, diz o coletivo de bolsistas.
 
“Neste sentido, cabe destacar que o Programa de Bolsa de Pesquisa de Estágio no Exterior (BEPE) é essencial para a completa realização de determinadas pesquisas, que o previram nos projetos iniciais aprovados pela Fapesp. Compreendemos que os cronogramas devem ser refeitos pelos bolsistas, que dependem, para isso, de tempo hábil, cujos prazos supracitados inviabilizam”.
 
Por fim, ainda segundo a carta — que recebeu assinaturas de apoio da Adusp e de associações de pós-graduandos — a Fapesp não divulgou, até o presente momento, “a intenção de realizar algum estudo que avalie o amplo impacto da pandemia nas pesquisas que fomenta”, o que na avaliação dos autores inviabiliza a formulação de “estratégias de recuperação do cenário científico do Estado de São Paulo”. Por essa razão, propõem que a agência desenvolva um estudo com esse objeto.
 
O documento ressalta que o orçamento de 2021 da Fapesp “foi garantido pelo decreto do governador estadual João Agripino da Costa Doria Junior (PSDB), que também assegurou publicamente o orçamento para os anos posteriores”, e observa que suas sugestões “estão de acordo com as decisões tomadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que decretou prorrogação geral e irrestrita de até seis meses em suas bolsas”, bem como com as da USP, “que concedeu mais doze meses para a entrega das dissertações e teses”.
 

EXPRESSO ADUSP


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